quarta-feira, 7 de maio de 2008

Era uma vez...

... uma menininha magrela e nariguda, que, com seus onze anos, odiava ir para as festinhas das colegas da escola. Na época, a moda era dançar música lenta e ela quase nunca conseguia um par para dançar. Os meninos, claro, preferiam as gatinhas descoladas que já jogavam charme, vestiam Popcorn e tinham algum peito por baixo do primeiro Valisere. Para passar o tempo - e fingir que estava tudo bem -, ela dava voltar pelo salão do play, pegava um Fandangos aqui, um refri ali... até dar a hora de voltar pra casa. Pois foi numa dessas festas, de alguma dessas colegas - se não me engano da Leka Kuperman, uma dessas gatinhas descoladas -, num desses plays da Zona Sul, que conheceu outra menininha, da mesma série. Lá estava ela: sozinha, sentada no balanço de um parquinho vazio. Claro, o momento era da música lenta e ela, assim como eu, a tal menina magrela, por algum motivo, não queria estar no salão. Ela era gordinha, ruivinha e sardenta. Sentei do seu lado e começamos a conversar. O papo? Não faço idéia. Só sei que em minutos já éramos amigas. Amigas daquelas que nem o tempo nem a distância separam a gente. Daquela quarta série pra cá muita coisa aconteceu: finalmente desencalhamos - ela primeiro e depois eu, passamos vários carnavais na Bahia à base de litros de ligante, ela trocou de escola, voltou pra nossa escola, eu morei fora, voltei, ela entrou pro CISV, eu namorei um baiano, ela um argentino, vivemos ilusões e desilusões amorosas, ela fez crítica de teatro e eu jornalismo, ela foi pra São Paulo, eu virei roteirista e ela crítica de arte, eu pintei o cabelo de vermelho e ela cortou curtinho, eu me apaixonei por um menino de condomínio bonito e sensível e que sabe andar de skate, ela se encantou por um artista sensível, bonito e que ainda toca piano. Ela foi morar com ele. Eu me casei de vestido off-white, com juiz de paz, buquê e bem-casado. Eu engravidei e... ela também! Enjoadas nos primeiros meses, nos refugiamos na Praia do Forte para entender e viver esse momento, ainda muito novo pra gente. Vomitamos juntas, acordamos juntas de madrugada para atacar a geladeira da casa de meu tio, chupamos muita manga, melancia e picolé Capelinha (eu de amendoim e ela de manga). No dia 15 de abril, a minha bolsa estourou às três da madrugada. Betina, minha filha, estava pra chegar. O que ninguém podia imaginar era que, em algum momento ali, naquele paraíso da Praia do Forte, como duas amigas fazendo traquinagem, Betina e Anita combinaram de chegar juntas ao mundo. E foi assim que, ainda na manhã do mesmo dia, Anita fez uma travessura na barriga da mãe e acabou rompendo sua bolsa. Betina nasceu na São José. Anita na Perinatal. Betina de manhãzinha, Anita de tardinha. As duas arianas, as duas cor-de-rosa, as duas lindas, as duas já muito amadas e abençoadas. E assim (re) começa a história de amizade de dois grãozinhos de areia.
Foto: Dani e Dora, no auge dos enjôos, com Anita e Betina nas barrigas, na praia do Forte. 2007.


2 comentários:

Unknown disse...

Dora e Dani,
Nao vou passar por esse blog de Dora e Betina mais nao. Vira e mexe estou aos prantos. Chega pra mim!!! Eu tenho que ser durona pra criar esses dois moleques aqui do meu lado. Mas..Vem cah, eu quero eh comer manga!!!!

Anônimo disse...

Olá Isadora ...fui sua "aluna" no geração futura 2008 e fiz o inter sobre os pescadores de Ilhabela -SP..a Bia me passou seu blog e me encantei por ele e principalmente por essa historia..não consegui ler sem me emocionar e muito menos sem imaginar um "curta" não sei não me deu uma ideia para esse semestre..rsrs
Um grande beijo e parabéns que o Pai Celestial lhe abençoe muitooooo!!
Bjs Virginia Alves