quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Perdas

Alguns dias atrás soubemos que um casal amigo nosso muito próximo perdeu o bebê que esperava. Na mesma hora Vinícius me "intimou" a ligar para dar uma palavra de conforto à amiga. Como sempre muito presente, muito prestativo, muito prático já queria mostrar que estava ali, solidário. Parei e pensei: "O que dizer numa hora dessas?". Fiquei em silêncio por algum tempo enquanto Vinícius continuava "já sei, conheço você, não vai ligar". Lembrei que havíamos acabado de mandar flores com charutos e um bonequinho de presente para eles. Exatamente como eles haviam feito quando souberam que nós estávamos grávidos pela primeira vez. Mandaram uma almofadinha com um ursinho branco encaixado num bolsinho. Deve ter sido um dos primeiros presentes que ganhamos antes mesmo de completarmos dois meses de gestação. Pouco tempo depois perdemos o bebê. Exatamente como eles. Exatamente como uma grande parte das mulheres em todo o mundo. "Quase 40% das mulheres sofrem aborto espontâneo antes de completarem três meses de gravidez", explicou Dr. Ricardo, nosso médico. Mas o que são estatísticas numa hora dessas? Uma hora em que um sentimento tão difícil de se descrever toma conta de você da raiz do cabelo à ponta dos pés? Uma mistura de tristeza, indignação, revolta e melancolia e mais um punhado de outras que não saberia enumerar aqui nem em lugar nenhum. Vinícius continuava: "Então manda um email, mas não deixa de falar com ela não". Falar o quê? Nessas horas a gente prefere ficar quietinha, na nossa "caixinha" e esperar o tempo passar. Porque o tempo passa. O tempo passou e me trouxe Betina. Quando ela nasceu, tirei do fundo da gaveta a almofadinha com o ursinho. São muitas as almofadas no berço de Betina. Mas aquela tem e sempre terá pra mim um sentido especial. Um sentido que só quem já passou por um momento como esse irá entender. Vinícius já tinha ido pra sala quando suspirei sozinha lembrando dos charutos e do bonequinho que mandamos. Com certeza estarão guardados em alguma gaveta e um dia, muito em breve, terão um sentido todo especial.

2 comentários:

Anônimo disse...

Você escreve viu???? Descreve bem esse sentimento,não substima a tristeza e mostra a esperança como caminho, com carinho.Fôfo!
Bjs

Anônimo disse...

Oi Isadora, tudo bem? Como foram de final de ano?

Somente hoje consegui ler o texto que você escreveu pra gente, acho no fundo faltava coragem! Queria muito te agradecer pelo carinho e também por conseguir entender tão bem o que estávamos sentindo. O texto é lindo!!

E Betina, está bem?

Desejamos para vocês também um ano muito especial e maravilhoso.

Dá um beijo bem gostoso na Betina.

Bjs,